quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Ratos e baratas natalinas

Ah, o natal... Época de amor ao próximo, paz, esperança, confraternização... época de lembranças... Acho que uma das partes que compõe o espírito natalino é a incitação de antigas lembranças, memórias de infância, fatos marcantes... e na minha família não poderia ser diferente. Nada como a ceia de natal e a troca de presentes pra despertar aquela vontadezinha de falar do passado – a outra opção era o especial de natal da Xuxa na TV.
A primeira a começar a falar foi a minha irmã, perguntando à minha mãe se ela se lembrava de uma vez em que um rato subiu na bunda dela no vaso sanitário – como se fosse possível esquecer! (Da série Coisas que Só Acontecem em Cerro Largo). Não querendo nos poupar dos detalhes sórdidos ela esmiuçou a cena em que ela sentava no vaso, sentia uma cócega nas pernas, na parte inferior da coxa, e depois via um ratinho espiando com a cabecinha entre as suas pernas. Não sendo essa uma imagem bizarra o suficiente minha mãe complementa com algo do tipo: “Não, não lembro não! ‘Tu gritava’ como se tivesse visto fantasma, como se tivessem tentando te matar. Já estava parada aqui fora na calçada, com as calças abaixadas, e ainda gritando igual uma louca sem falar o que tinha acontecido!”. E olhando pra mim com a maior naturalidade arremata com: “Tive que dar um daqueles tapas na cara, de cinema, sabe? ...pra ela se acalmar, tava num ataque histérico.” – Claro mãe, acontece nas melhores famílias.
Minha irmã tocou no assunto porque tinha visto um sapo dentro de casa, e comentou que até não tem tanto nojo de barata, insetos em geral, mas tem muito nojo de ratos e sapos... Pra não ficar de fora desse genuíno espírito de natal eu também resolvi dar a minha contribuição: “Eu também não tenho muito nojo de barata, tanto que já dei um beijo de língua em uma!”, e infelizmente essa é outra das minhas estórias baseadas em fatos reais...
Aconteceu em uma noite quente de verão, quando a minha mania de velha de levar água pro lado da cama estava só começando. Nesse dia tinha perdido a tampa da minha garrafinha de 500ml, mesmo assim enchi de água e a levei pro quarto. Como era de se esperar em uma noite de 40ºC e sem ar condicionado, acordei morta de sede, e fui beber a minha água com os olhos semi-fechados, tateando a garrafa. Má idéia... eu literalmente fui com muita sede ao pote. Senti uma coisa estranha na boca, uma coisa sólida, e com patinhas. Quando me dei conta já tinha dado um modesto chupão na barata – mas só na metade que tinha entrado na minha boca – tentando sugar a água que não descia. Mas tudo bem, tudo tem seu lado bom. Hoje conto com naturalidade essa estória porque funcionou como um tratamento de choque. Não posso mais dar escândalos ou me sentir enojada de ver uma barata no chão de um restaurante ou em uma cozinha depois de já ter beijado uma. (Ah, se fossem elas que virassem príncipes...).
Enfim, lembrei dessa conversa toda porque hoje minha irmã está aqui no meu apartamento, me visitando, e jogou uma perereca na minha boca... Brincadeirinha, foi só um sache de chá gelado! Mas recomendo a todas as irmãs mais novas, a sensação de queda de pressão e repulsão é bem similar.

sábado, 6 de novembro de 2010

Brasil, meu Brasil brasileiro 3

Parecia ser mais um típico final de semana de surf. Céu ensolarado, calor, boas ondas, pouco vento, e quatro amigos descendo a serra rumo ao litoral norte paulista. Não que essas condições sejam realmente necessárias para um dia de surf, pois por mais inóspito que o mar possa estar no auge do inverno paulista lá estão eles, pranchinha em baixo do braço e sorriso largo no rosto, como se os 2º Celsius que o mar pode lhes oferecer naquele momento fosse uma convidativa e morna jakuzi.
Mas naquele dia tudo conspirava ao seu favor. A não ser por um pequeno detalhe: enquanto desciam a serra conversando animadamente, eis que um policial rodoviário militar, inesperadamente, mandou os garotos parar o carro no acostamento.
Agora um pequeno devaneio: Claro que um policial tem todo o direito de mandar quem ele bem entender parar o carro, para revistar ou o que for. E entendo que um carro cheio de moleques surfistas seja convidativo, afinal, apesar de achar que a nossa geração tem se mostrado bem mais saúde do que a dos nossos pais, facilmente num carro desses se encontraria pequenas infrações como ausência de documentos por se tratar do carro do pai, ou quem sabe ate mesmo um baseado... e em verdade constata-se que a “convidatividade” do alvo foi o único motivo para o carro ser parado, já que estava dentro do limite de velocidade e fisicamente estava em perfeitas condições.
Enfim, carro estacionado e circo iniciado. Ao invés de pedir documentos, e fazer perguntas corriqueiras do tipo “Pra onde vocês estão indo?” e “De quem é esse veículo?”, o guarda entoa uma única sentença que parecia ser muito bem ensaia e praticada: “Vocês querem me mostrar o que tem aí e já acertar tudo e ir embora, ou querem que eu mesmo encontre?”. (Vocês pensam que as gorjetas de final de ano destinadas a complementar o 13º salário começam só em dezembro? Não nos tempos de hoje, em outubro a mendicância já está oficializada...).
Com uma elegância política – e sem nada a dever, já que nunca nenhum deles tinha chegado perto de drogas – o motorista do carro responde: “Pode procurar, fique a vontade.”.
Completamente indignado – ou arrependido por ter parado o carro errado – o guarda começou seu trabalho de busca digno de cão farejador. Enquanto remexia todo o carro tinha o cuidado de não deixar nada no seu devido lugar e ser o mais grosseiro possível. Ao perceber que o carro realmente estava limpo, e não ia encontrar nada lá, passou a revista aos ocupantes do carro (coisa que por si só já é abuso de autoridade, considerando que ninguém tem o poder de revista com ausência de uma autorização oficial, ou ao menos uma queixa ou suspeita que possa por em risco a segurança pública... mas enfim, não esperamos que um oficial cuja primeira sentença foi um pedido de suborno respeite a lei, tampouco se guie pelo bom-senso.).
Primeiro a revista começou conforme o procedimento, correndo as mãos pelas pernas a procura de armas ou qualquer saliência que levante suspeita. Depois, o guarda pediu que os ocupantes do carro tirassem a camisa. (Vocês acham que aí sim foi abuso de autoridade? O melhor ainda está por vir...). Não satisfeito com a semi-nudez o guarda mandou os meninos abaixarem as calças. E quando finalmente vestiam apenas as cuecas, uma por uma ele as puxava para dar uma conferida (finalmente ele resolveu verificar os documentos! E eu pensando que ele tinha esquecido!). Para dois deles ainda foi solicitado que levantassem o pênis e o "saco", mas tudo em prol da lei, povo brasileiro, porque tanta revolta?
O guarda não foi tão rude, afinal. Ao terminar o serviço ele fez questão de esclarecer que tudo que foi feito foi apenas procedimento padrão (aonde? Na caça aos judeus ou na senzala?), e ainda teve a delicadeza de os confortar dizendo que tiveram sorte por terem sido parados a luz do dia, que se fosse a noite eles iam se dar mal. (Ufa!)
O problema desse país não é apenas a falta de policiamento na rua. Primeiro porque se todos os policiais cumprissem a ronda a qual são destinados nenhum lugar ficaria descoberto. E segundo, se existisse um efetivo acompanhamento do trabalho deles, se não fechassem os olhos para as conhecidas laranjas podres, e os concursos não funcionassem a base de QI (o famoso Quem Indica) talvez as coisas pudessem estar melhores. Os bandidos vão começar a sair das ruas quando tirarem os bandidos de dentro da polícia e dos cargos oficiais desse país.

Texto dedicado àquele senhores que gostam de revista em cuecas – pois é lá que eles guardam o dinheiro destinado a segurança que eles tiraram dos cofres públicos.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A casa de praia de Deus

A Bola de Neve, apesar do nome, acreditem, é uma igreja. Mesmo sendo uma igreja evangélica tradicional tem atraído milhares de fiéis pelo seu estilo descontraído e a linguagem atual com que as pregações são ministradas. Quer dizer, talvez não seja considerado assim tão tradicional os louvores a Deus serem entoados em tons de raggae e rock, nem o altar ser uma prancha de surf e a decoração se resumir em quadros de surf e golfinhos, mas eu acho a idéia sensacional. A casa de Deus com decoração roots abriga todas as tribos: patricinhas, rockeiros, rastafáris, punks, alternativos, enfim, todos os que possuem o objetivo em comum de ficar mais perto de Deus, se tornarem pessoas melhores e fazer o bem.
Como em qualquer lugar com tanta mistura de tipos humanos, situações cômicas podem ser facilmente observadas. Sempre tem aquela pessoa meio sem noção, que não ta nem aí pra o que os outros pensam, e inevitavelmente atraem a nossa atenção.
Eis que em plena pregação de libertação de qualquer mal, qualquer doença, qualquer sentimento negativo que pudesse estar em nossas vidas, prestamos atenção em algo curioso. Enquanto o pastor fervorosa e monossilabicamente gritava “Sai!” pra todas essas coisas negativas, se ouvia um fiel, amigo nosso, gritar uma sílaba a mais depois do uníssono coro de “sai”. Quando a igreja silenciava ouvia-se apenas dele um “tra”.
Esse “tra” foi percebido umas três vezes, consecutivamente. Até que conseguimos discernir que, o que ele gritava, em contrario a toda a igreja, era “Entra!”. Ficamos ainda mais curiosos. Porque ele estaria gritando “entra”? O objetivo era que saísse todo o mal, toda doença, enfim. Então o pastor pediu que cada pessoa que acreditasse que sairia renovada dali colocasse a mão no local onde esperava cura ou melhora. Se fosse sentimental que colocasse a mão no coração, se fosse alguma dor que colocasse a mão sobre o local que estivesse doendo, que a cura viria.
Olhando pro nosso amigo, lá estava ele com a mão atolada na bunda! Aos poucos fomos ligando os pontos e entendendo: o problema dele, a doença a ser curada, era hemorróidas. Ele gritava “entra” porque se gritasse “sai” iria piorar mais ainda sua situação. O que ele realmente queria era que aquilo voltasse de onde veio!
Não sendo essa situação cômica o suficiente, mal sabíamos que o pior ainda estava por vir. Depois de mais alguns minutos de oração o pastor falou: “Agora vamos interceder pelo irmão ao nosso lado. Coloque a mão sobre o local onde nosso irmão pediu a cura, e ore por ele.”. Oração é coisa séria, mas preces a parte, todos irrompemos em gargalhadas enquanto o irmão ao lado do cara das hemorróidas nos olhava com uma cara de “putz!”. Aí está uma grande prova de amizade! Os dois eram amigos e, apesar da hesitação, o amigo colocou a mão na bunda do outro pra orar por ele, enquanto jogava mais uns “Entra!” dentre seus clamores.
Finda a oração o pastor garantiu que todos estariam curados. O menino das hemorróidas, incrédulo, se agachava e tossia para testar sua melhora, ao passo que comemorava, gritava que estava curado, e abraçava o amigo que orou por ele. Deus é pai!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Passado negro

Está passando na televisão um comercial de carro onde falam que lama rejuvenesce. É uma proposta “diferente”, com um monte de gente com lama na cara cantando “forever Young”... Enfim, o referido comercial despertou em mim memórias relacionadas também à lama da minha infância (literalmente).
Se meus primos e eu já não sabíamos o que inventar em dias de sol, quando tínhamos à nossa disposição mil e uma variedades de brincadeiras ao ar livre, imagine só em dias de chuva! Em um desses dias minha mãe pediu pra minha prima e eu buscarmos chá de marcela pra ela. A chuva tinha dado uma trégua, então essa era uma oportunidade pra minha mãe que, alem de conseguir o chá, teve um argumento pra nos tirar de dentro de casa. Lá fomos nós, minha prima e eu, cantarolando, pisando numa possinha d’água aqui, outra ali, respingando um pouquinho de barro na outra... até percebermos que já estávamos chegando no vilarejo vizinho ao nosso, sem nem uma folha de chá na mão, e com barro dos pés a cabeça. Mas a preocupação maior não foi nem com a falta de chá, nem com a distancia, e sim com o sermão que ouviríamos ao chegar em casa...
Muito espertas e sem nenhuma noção, ainda fizemos todo o caminho de volta sem colher nenhum chá, e ensaiando uma ceninha esdrúxula pra pôr em prática quando chegássemos em casa. A estratégia era fazer cara de coitadinhas, e dizer em uníssono: “Não vai chingar?”. Óbvio que não deu certo. Além de a minha mãe ser mais do que vacinada com as nossas caras de santinhas, a gente ainda caiu na gargalhada depois de dizer a frase pré-programada (quando percebemos que pondo em prática nosso plano soava ainda mais ridículo que nos ensaios). Apesar do ‘momento sem noção’ minha mãe não nos chingou – grande erro. Aquela ‘porcaria’ nos rendeu apenas um banho gelado de mangueira no gramado de casa, e não foi o suficiente para aprendermos a lição.
Os nossos banhos rejuvenescedores se repetiram muitas e muitas vezes. O próximo foi no meio dos canteiros de plantação do meu pai, dessa vez foi com meu primo mais novo. Alem de nos embarrarmos dos pés a cabeça – ele com uma camiseta branca – e de estragar a plantação do meu pai, ainda fomos desfilar pelo centro da cidade, orgulhosos pelo estado lamentável com que conseguimos nos colocar. Cumprimentávamos os vizinhos, que estavam boquiabertos nos olhando, como se não houvéssemos notado nada de novo e desconhecêssemos o motivo da admiração...
Nas mesmas férias, e com um pouquinho mais de lama, meu primo e eu fomos ao “Lago Negro”, uma poça de água suja –como o próprio nome sugere – em que nos banhávamos nos dias de muito calor. Esse Lago Negro era longe das nossas casas, e fomos de bicicleta. Acabamos perdendo o horário e quando nos demos por conta já estava quase anoitecendo. Apesar de pressentirmos a preocupação dos nossos pais, meu primo encontrou uma pedra brilhante no caminho. E tão brilhante quando a pedra foi a idéia dele de levá-la para casa. A pedra tinha pelo menos o dobro do tamanho da sua cabeça. Obviamente ele não conseguia equilibrar a pedra sobre a bicicleta, então preferiu ir a empurrando, a pedra sobre o banco. Como já estava escurecendo e nós não estávamos prestando muita atenção no caminho, meu primo que estava a pé pisou em uma poça imensa de lama que o afundou quase até o joelho. E ao trazer o pé de volta a superfície percebeu que o chinelo tinha ficado na poça. Começamos uma caça desesperada ao chinelo – agora com pressa de ir pra casa, porque junto com a escuridão aumentava o nosso medo. Quando finalmente o achamos mais uma vez estávamos cobertos de lama, loucos pra ir pra casa, e meu primo ainda queria carregar a maldita pedra! Consegui convencê-lo do contrario bem a tempo, pois quando chegamos em casa – por volta das 21:00h, nossas famílias estavam prestes a colocar a policia atrás de nós.
Ainda nessas férias nós dois conseguimos estragar o carrinho de mão em que meu tio buscava leite para a sua fabricação de queijo. Meu tio – inconseqüente – pediu que levássemos o carrinho até a minha casa porque mais tarde ele buscaria alguma coisa por lá... do lado da minha casa tinha um morro com cascalho solto. Uma rua esburacada e mal cuidada, mas com uma ladeira convidativa pra duas crianças possuindo duas rodinhas! Sem hesitação alguma – e ainda menos juízo – começamos a nos empurrar ladeira abaixo. Um ficava dentro do carrinho, e o outro empurrava, o mais rápido quanto possível. Repetimos isso dezenas de vezes, até que, em uma delas, enquanto eu empurrava meu primo, esbarrei em uma pedra de cascalho maior do que as outras e o carrinho não agüentou. Ao passo que a rodinha travou, eu caí por cima do meu primo e do carrinho, e descemos os três rolando estrada abaixo. O carrinho ficou inutilizável. A roda virou um pedaço de ferro retorcido sem forma definida. E com a maior cara lavada e os joelhos ralados ainda tivemos a cara de pau de falar pro meu tio que não tínhamos feito nada e que não sabíamos o que tinha acontecido com a roda... “Já tava assim quando eu peguei”, desculpa clássica!
Todo mundo tem um passado sujo.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Lacaiage

Estava chegando em mais um desses jantares de família – dos quais não se tem a pretensão de desfrutar de uma grande diversão, apenas boa comida – quando um encontro e conseqüente amizade aconteceram de súbito. Um casal (que tinham idade para ser meus pais) me proporcionaram momentos de gargalhadas e distração que só os amigos de infância conseguem despertar. Ele, um militar – domado pela esposa, eu pensei – e ela, uma nordestina ‘arretada’ que, como todo nordestino, tem uma grande inclinação ao humor.
Todos riamos até chorar enquanto ela, saudavelmente, desfazia o cargo do marido – militar da aeronáutica – falando que era ele quem carregava as bagagens no aeroporto, e que se sentia realizado quando via aquela etiqueta “Cuidado, frágil”, porque ali podia descontar toda a sua raiva contida. Ela sabe que, quando ele chega em casa ‘mansinho’ alguma caixa frágil está chegando desmontada (a pontapés) ao seu destino. (Risada diabólica). “Quando ele não está com as bagagens, está empurrando aquele carrinho com uma vassourinha em baixo, sabe?”, ela completava, com a seriedade de uma juíza.
Falando da infância, traços de um humor trágico se distinguiam no meio do escracho. Era as gargalhadas que ela contava que, junto com as quatro irmãs, o pai (também militar, da época da ditadura) a levava ao barbeiro para passar a maquina no zero. De cabeça raspada, as cinco ficavam em fileira militar (por ordem de tamanho) na frente de casa, enquanto o pai as “banhava”. Com a mangueira esguichava a água gelada nas cinco como se estivesse lavando um muro, ao som de “esfrega atrás da orelha, soldado!”, “agora vira 02!”, e afins...
E mesmo com essa infância cômica que, alguns poderiam chamar de difícil, eis que ela me ensinou uma técnica que a fez sobreviver, e que pode mudar a minha vida (talvez a sua também, vai saber...). Eu estava contando – do alto da minha calma – da vontade que tenho de socar as pessoas que me chamam com um “PSIU” no meio de um avião lotado. O que essas pessoas esperam com um “psiu”, aliás? Tá vazando, colega? E, alem disso, “psiu” serve pra qualquer pessoa! Porque a criatura que chama por “psiu” acha que ele vai acertar justamente a pessoa com quem ela espera falar? Ou a intenção é chamar a atenção de todo mundo mesmo? Enfim, não obstante com o “psiu”, ao receber minha mais cordial indiferença a pessoa ainda completa me cutucando! Meu irmão, essa cutucada desperta meu instinto ninja! A primeira reação, automática, é o olhar mortal do tigre maluco. (E isso é sério). Mas, é aí que entra a técnica da minha amiga nordestina: cantarolar mentalmente minha música favorita. Simples e eficaz, além de você não ouvir o que o sujeito inconveniente está falando, ainda vai ficar com um semi-sorriso e uma cara de louca. Talvez até balance a cabeça com a melodia, mas aí exige bastante concentração e treinamento. “Se ela dança, eu danço, Se ela dança, eu danço...” ela usou como exemplo. Mais uma vez caí na gargalhada. E de agora em diante será assim:
- Moça, onde fica a conexão?
- Ali nessa placa onde está escrito “CONEXÃO”, senhor. (Se ela dança, eu danço! Se ela dança, eu danço!”
- Moça, tem como pedir pros outros passageiros fecharem todas as suas janelas? O sol está me incomodando.
Nem respondo, apenas (Se ela dança, eu danço...), e vou embora.
Ainda não testei, mas me parece bem eficaz. Mas atenção, um alerta, não vai funcionar se sua musica favorita for algo do tipo “Meu amor, eu te odeio, você me perturba e um dia ainda vou conseguir te matar...” do Bili Rubina.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Uma gafe do meu tamanho

Todos vocês, meus caros leitores, devem suspeitar da minha vontade de ser jornalista, caso contrario não alimentaria tão insistentemente esse blog que, atualmente, é só uma perda de tempo, mas que pode me tornar reconhecida no futuro! – Sonho meu, sonho meu, tudo pode acontecer...
Enfim, em um desses vôos da vida, eu levei um passageiro ilustre! Um daqueles ‘baita’ jornalistas da rede Globo que fazem com que a gente se sinta a pessoa mais ignorante da face da terra, perante tanta informação, conhecimento e articulação. Esse jornalista foi conversar comigo, reles mortal, e do alto de seus mais de vinte anos de carreira me perguntou qual era a diferença de fuso horário em Fortaleza – destino da sua viajem. E, convenhamos, de fuso horário eu entendo (marcas da aviação), respondi pronta e seguramente.
A partir daí se desenrolou uma conversa sobre a sua carreira, e sobre meu interesse em seguir a profissão. O consultei sobre a importância e necessidade de se ter um diploma de curso superior em jornalismo mesmo que agora o mesmo não seja mais exigido para se atuar na área. Mantemos uma conversa bem articulada e inteligente – eu tinha que impressionar o cara! - E uma meia hora depois, já totalmente “brothers”, concordamos que um dia eu seria sua colega de trabalho. Sério, eu fiquei emocionada.
Cheguei em casa depois daquele vôo totalmente deslumbrada! Contando pra todo mundo o que tinha acontecido! Ate que meu namorado (estraga prazeres) perguntou:
- Você pegou um contato dele?
- Não.
Eu não peguei um contato dele! E isso ficou na minha cabeça nos últimos três meses. Até ontem, quando o reencontrei coincidentemente no meu vôo! Meus olhinhos brilharam igual uma criança vendo o Papai Noel quando o avistei na fila de embarque. E pra minha surpresa ele me cumprimentou cordialmente se lembrando de mim e da nossa conversa de três meses atrás. Impagável!
Na primeira oportunidade que tive larguei todo meu trabalho e fui conversar com ele:
- Oi, tudo bem? Você lembra de mim?!
- Claro que eu lembro! Nós voamos juntos há uns três meses atrás, você é a menina que gosta de escrever, estava entrando na faculdade de comunicação...
(Me achei!).
- É, isso mesmo! Nossa, aquele dia eu cheguei em casa com a certeza de que eu seria a pior jornalista do mundo...
- Ué?! Por quê?! – ele indagou um pouco confuso.
- Porque eu voei com Caco Barcellos e nem sequer pedi um contato! Um cartão, um e-mail, um sinal de fumaça... Qualquer coisa!
Depois de rir muito, ele responde:
- E isso que eu nem sou o Caco Barcellos...
Um minuto de silêncio – o necessário para eu reencontrar o chão sob meus pés e juntar a minha voz que tinha caído sobre ele:
- Não é? – completamente perdida.
- Não, eu sou o Edney Silvestre. Mas não seja por isso, ta aqui o meu cartão, entra em contato sim, manda seu currículo...
Eu queria chorar. Se tivesse alguma fresta aberta naquele avião eu teria pulado. Santa pressurização que não deixa fendas e salvou minha vida nesse momento.
Como o constrangimento em pessoa, pedi mil desculpas, falei que os dois eram parecidos e eu realmente tinha me confundido. Apesar de ele ter falado que isso era muito comum e muita gente os confundem eu fiquei roxa de vergonha o resto do vôo, não me atrevendo a chegar perto da sua poltrona novamente, ao passo que pensava: “Realmente Diane, tu vai ser sim a pior jornalista do mundo.”.
No mesmo vôo estava a Regina Duarte, ainda tive que agüentar as minhas colegas me zoando todo o percurso com piadinhas como:
“Você viu também que a Paloma Duarte ta aí? Ou seria o Lima Duarte...”, ou “E ai? Conseguiu uma vaguinha la no Profissão Repórter com o Caco?”, ou até: “Sabe quem eu conheço que posso te indicar?? O Pedro Bial, aquele que apresenta o No Limite!”.
Não tinha nem como me defender, foi merecido. Até mesmo o Edney Silvestre entrou na brincadeira. No final do vôo, muito simpático e educado, mais uma vez ele falou que estaria esperando meu e-mail. Não sei dentro de quanto tempo eu terei coragem de falar com ele denovo, mas agora o contato está aí...





E segue o baile!

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Animais de estimação

O assunto animais de estimação sempre nos remetem a lembranças boas, a família, aquela casa no sítio e os bons momentos que seu companheirinho lhe proporcionou, certo?
Errado. Esse é, na realidade, um assunto muito delicado pra mim, já que no quesito fauna eu nunca tive muita sorte, tampouco boas lembranças.
Tudo começou com as minhas Tetéias. Já coloco esse substantivo próprio no plural porque a minha vira-lata que morreu foi substituída por outra, Tetéia segunda, como se eu não fosse perceber. Minha mãe subestimou a experiência adquirida nos meus três anos de vida e achou que me enganaria facilmente, mas não. Ela até pôde me fazer acreditar que minha Tetéia original foi morar com outros cachorrinhos, mas não que ela não tivesse sido trocada, disso eu nunca tive dúvidas. Mas enfim, a segunda Tetéia também não durou muito não. E eu acredito que tenha acontecido algo trágico com ela já que na época minha mãe preferiu não se pronunciar a respeito.
Depois delas teve o Bob, um cachorro que fazia jus à ciência que descobriu que apenas seres humanos usufruem de alguma racionalidade. Ele saltitava desorientadamente, desesperadamente, loucamente. Saltitava sobre a comida, sobre outros cachorros, sobre nós que cuidávamos dele, e eu, pequena que era, não conseguia nem sequer chegar perto dele sem que fosse derrubada. Não sei o que aconteceu com esse.
Depois disso teve um que nem lembro o nome. Só lembro que era cego, surdo, mudo e perneta. Foi sacrificado.
Chega de cachorro né? Eis que surge o primeiro Kiko. Um coelhinho daqueles de filme. Branquinho, olhinhos vermelhos, redondinho... Um belo dia o Kiko encontrou uma coelhinha, e foi embora com ela, pra viver feliz para sempre e fazer coelhinhos... ‘Há!’ Doce ilusão! Foi só no ano passado, num flash back dessa história, que alguma coisa na voz da minha consciência soou irreal. Infortunamente, decidi confirmar essa memória com a minha mãe que, às gargalhadas, contou que naquele dia, quando acordou, saiu recolhendo pedaços de Kiko pelo quintal, o que o cachorro do vizinho tinha deixado pelo caminho... Disse que não acreditava que até hoje eu me agarrava à historia do Kiko ter ido construir uma família. Foi cruel.
No segundo Kiko já estava aflorando em mim a consciência ambiental que carrego nas costas até hoje – e que me dói ao passar na marginal Tietê e nos jardins bem irrigados do Morumbi. Bom, esse Kiko era um papagaio. E eu julguei não ser correto o pobre bichinho ficar preso numa gaiola. E num delírio inefável, praticando caridade e sem qualquer tipo de pestanejo, abri a gaiola e o lancei à natureza. Provavelmente o cachorro do vizinho deu um jeito nesse também, já que o pobre não conseguia voar e ficou o dia inteiro passeando pelo gramado.
Eu sei que isso já é historia pra uma vida toda, mas eu não tinha mais de 6 anos até aí. Nessa epoca – evangélica que sou – já estava aprendendo historias da Bíblia. Fiquei muito impressionada com uma, especificamente, a de Caim e Abel. Pra quem não conhece, Caim era o irmao mal, e Abel o bom. Eles faziam oferendas a Deus queimando um pouco dos seus bens. O irmao bom criava ovelhas, e sacrificou a melhor do seu rebanho, e Deus ficou feliz. Caim plantava trigo, mas era mesquinho e ofertou a Deus um trigo feio e sem vida que não lhe seria útil, Deus não ficou satisfeito... o que isso tem a ver com os meus animais de estimação? Logo as coisas vão se encaixar...
Depois de um bom período sem cachorros, minha mãe levou pra mim um filhotinho lindo! Tinha um pouco mais de um palmo de tamanho, e era uma bolinha de pelo, com aquele fucinho que desperta vontade de morder. Foi amor a primeira vista, não deixei nem minha mãe o apresentar pra casinha nova, já o tomei dos braços e passei o resto do dia o mimando e carregando pra todo lugar. No final do dia deixei ele solto e entrei em casa. Ele devia estar com sede e não encontrou sua agua porque ainda não conhecia a casa, tomou agua que escorria da maquinha de lavar roupas, cheia de sabão em pó. Essa parte da historia não é nada engraçada, e ainda me traz lagrimas aos olhos. Ele já estava desmaiado quando minha mãe o encontrou. Acreditem se quiser, ela fez massagem cardiopulmonar, manobras de ressucitação a afogamento, e ele voltou a respirar, cuspiu várias bolinhas de sabão e permaneceu vivo, mas muito doente, por mais uns 3 dias. E é aí que entra a historia de Caim e Abel! Eu estava decidida a salvar aquele filhote, e fiz uma ‘parceria’ com Deus. Eu ofertava a ele a minha melhor Barbie, que eu tinha acabado de ganhar da minha mãe, e ele salvava o cachorrinho. Queimei minha Barbie, perdi o cachorro. Tenho certeza de que Deus gostou da atitude, mas a moral da historia dos irmãos bíblicos não era pra ser tirada assim tão ao pé da letra...
E por ultimo, mas não menos importante, o meu urso panda. Esse era imaginario, hoje eu sei porque a uns dois anos atras la veio minha consciencia questionar minhas lembranças denovo! Ele morava no meio de um pé de boldo, de frente pra janela do meu quarto. E a gente brincava por ali, entre boldos e hortelãs, mas um dia ele me empurrou e eu não gostei, nós brigamos e eu nunca mais o vi.
Saudades eternas, panda.