quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Coisas de irmã mais velha 2

No dia em que minha bisavó faleceu, minha irmã ainda era bem pequena, não devia ter mais de um ano e meio. Ela ouviu as pessoas comentando que nossa bisa seria levada a um cemitério e resolveu questionar ao nosso pai sobre o que se tratava esse lugar.
- “É um lugar onde se enterram os velhinhos.” – Foi a resposta não muito detalhada que obteve. Mas, pareceu que ela havia se dado por satisfeita, afinal de contas para nossa surpresa não tocou mais no assunto.
Alguns dias depois, enquanto minha mãe a ajudava com um merecido banho – depois de ter passado um dia inteiro fazendo bolinhos de barro – ela sente falta de um anel de ouro que minha irmã usava no anelar esquerdo.
Quando perguntou à minha irmã se ela sabia onde estava o anel, ela respondeu: “Ah mãe, ele já tava velhinho, aí eu enterrei. Fiz um cemitério!”
Bem que minha mãe tentou recuperar o bendito anel dando umas cavoucadas pelo jardim, mas com as coordenadas de uma criança de menos de dois anos não ficou muito fácil...
O anel está lá, em algum lugar daquelas terras, até hoje. Se alguém encontrar pagamos recompensa. Pertence a um pedacinho da família, literalmente.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Males do século

Tem dias em que mesmo que você se concentre muito em um objetivo, ou na busca de uma paz interior, acaba cedendo às pressões mundanas à sua volta. Faz parte do ser humano fraquejar. Faz parte da vida mantermos uma eterna busca.
O ser humano em geral tem a necessidade e o péssimo hábito de nunca se dar por satisfeito. E é daí, desse deslize comportamental, que surgem as doenças do século nas nossas vidas.
Batalhamos por um bom emprego, onde seremos valorizados e requisitados, e logo em seguida estamos nos queixando do stress que as pressões do trabalho e a falta de tempo nos ocasionaram. As mulheres sonham em se casar, ter filhos e um cachorro, para depois reclamarem que não tem tempo para elas mesmas e dos excessivos gastos e transtornos com a burocracia do divórcio.
Os estudantes dão de si o máximo, no auge da sua ansiedade, objetivando entrar nas universidades, quando entram, não conseguem conciliar o ingresso à faculdade com o ingresso à vida adulta, e muitos desistem pelo caminho, frustrados e deprimidos.
Se paga aluguel, sonha em ter uma casa própria. Se tem casa própria, sonha em ter uma casa na praia.
Se anda de ônibus, sonha em ter um carro. Se tem um carro, abomina o transito a ponto de preferir ir pro trabalho andando.
Se mora no interior, quer ir pra cidade grande em busca de novas oportunidades. Se mora na capital, trabalha uma vida toda almejando em seu futuro a tranqüilidade de uma vida interiorana.
É duro encarar a realidade de frente, mas as doenças do século são de mera e exclusiva criação humana. O homem carrega em si a única e exclusiva culpa pelo stress e a depressão estarem atingindo tanta gente cada vez mais cedo.
Apesar dos milhares de anos de existência e desenvolvimento do homem, ainda não conseguimos aprender um dos princípios mais simples e fundamentais para gozar de uma vida plena e feliz: ‘Viver um dia de cada vez’.
Quando vamos aprender a dar sentido a palavra “paciência”?
Quando vamos nos dar ao tempo de parar e analisar em retrospectiva nossas vidas, percebendo que nós já alcançamos aquele sonho projetado no passado?
Qual é a fórmula pra entender que tudo acontece em seu tempo certo?
Se alguém descobrir ao menos uma dessas respostas, divulgue essa noticia para o mundo, a humanidade agradece.


“Deus nunca nos dá um fardo maior do que podemos carregar.”

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Falta de memórias de uma infância

Eu sempre tive, desde pequena, um certo desvio de atenção. Trata-se de uma memória seletiva involuntária, é a minha teoria... Toda vez que eu chegava em casa da escola e minha mãe perguntava se tinha lição eu simplesmente não sabia responder. Eu nem sequer sabia sobre quais disciplinas eu tive aula, que dirá a matéria que, teoricamente, eu tinha aprendido. Até que eu ía bem na escola, meu subconsciente sempre dava uma mãozinha, mas na época minha memória recente era sufocada por outros turbilhões de idéias que surgem em mentes jovens e férteis.
Até aí, tudo bem. O problema é que esses lapsos de esquecimento iam além da escola... Eu me lembro, não sei como, de um dia em que minha mãe pediu pra eu ir ao mercado. Normalmente ela me pedia duas coisas, e eu esquecia de uma, ou então brigava com ela por se precaver e pedir pra eu anotar pra não esquecer. Mas, neste dia, em especial, eu fiz pior. Saí de casa bem bela, encontrei uma amiga, fiquei uma hora jogando conversa fora com ela na rua, e voltei. Sem compra alguma. Eu até tentei inventar uma desculpa quando a minha mãe me perguntou das compras, mas acabei caindo na gargalhada junto com ela.
Ela só não achou tão engraçado quando eu esqueci a minha irmã. Nessa época eu ainda morava no interior, bem no interior, e o leite que consumíamos era tirado direto da vaca, quentinho... Eu ía até a vizinha buscar o leite fresco em um balde, quase todos os dias. A minha irmã, cuja primeira frase completa que aprendeu foi "Mana, posso ir junto?" me fazia companhia em vários desses passeios. Em um final de tarde de verão lá fomos nós, baldinho na mão, rumo à nossa tarefa diária. A vizinha tinha um filho da mesma idade da minha irmã, com uns dois anos, mais ou menos. Ela chegou lá, encontrou com ele e entrou na casa para brincar. Eu conversei um pouco com a vizinha, peguei o leite, fui embora.
Quando cheguei em casa, minha mãe com seu faro maternal em funcionamento pleno perguntou: "- Você não está esquecendo de nada?". "-Não." - respondi prontamente.
- E a sua irmã?
- Esqueci.
Depois do olhar que ela me lançou não precisava dizer mais nada. E acredite, vocês não gostariam de estar lá pra ver.
Como minha mãe mesmo diz, quem não usa a cabeça usa as pernas. Tive que voltar lá com a maior cara lavada dizendo que tinha ido buscar a irmã extraviada.