sábado, 10 de outubro de 2009

Bombril, mil e uma utilidades

Quando se mora em uma “cidade” onde não existem parques, cinemas, teatros, shopping, e nem outra qualquer forma de entretenimento, nossa imaginação acaba sendo impulsionada. Ainda mais quando se é uma criança cheia de energia.
Meus primos e eu descobríamos as formas mais inusitadas de diversão. As crianças da cidade grande não podem imaginar o quão divertido é brincar dentro de um caminhão cheio de soja! Alguns podem ver aí muito trabalho, outros vêem dinheiro, negócios... Outros ainda vêem o pão de cada dia. Para nós, era pura diversão. Imaginem um campeonato onde ganha quem encontrar um maior numero de joaninhas. Imaginem no final do dia tirar bolinhas de soja dos cabelos, roupas, do nariz... Não tem preço, e nem descrição.
Também fez parte de nossa criação ‘desbravar coxilhas’ (vide dicionário gaúcho), atravessando riachos, banhados, matos, capinzais, campos com touros, e tudo mais que cruzasse o nosso caminho. Menos de um metro e meio de altura, e uma curiosidade e coragem que não cabia em nós.
Mas é claro que, nem sempre fomos bem sucedidos. Em uma dessas minhas aventuras, eu subi em uma árvore, pulando em cima de um galho para testar sua flexibilidade, e me segurava em outro, um pouco mais espesso. Não foi preciso muito tempo para perceber que aquele galho não era assim tão flexível, tampouco resistente. O galho em que eu estava pulando quebrou, e eu fiquei suspensa a uns 2 metros de altura, pendurada como um macaquinho no galho acima da minha cabeça.
Agora imaginem aquelas cenas de filme onde o galho começa a estalar anunciando que não vai permanecer ali por muito tempo. Pois foi isso que aconteceu. Na hora me veio em mente um ditado que meu pai me ensinou: “Macaco que não pula, cai.”, mas já era tarde demais quando tomei a atitude de pular. Me soltei ao mesmo tempo que o galho quebrou. Caí ‘de bunda’ no chão, e o galho caiu na minha cabeça. Não sei quanto tempo fiquei ali deitada, e gostaria de retratar maiores detalhes desse incidente, mas é até aí que minha memória alcança. Acredito que o resto dessa lembrança foi comprimida pelo galo que se formou na minha testa.
Também teve um dia em que meu primo e eu – aquele mesmo das férias de verão – nos preparávamos para mais uma noite de reveillon em família. Era um costume local as crianças queimarem esponjas de aço, tipo Bombril, no lugar de fogos de artifício. Era uma alternativa mais barata, porém não menos perigosa. Amarrávamos um barbante na ponta da esponja, colocávamos fogo, e rodávamos em torno do corpo vendo o show pirotécnico que as fagulhas e faíscas da combustão apresentavam. Ps.: Crianças, não tentem fazer isso em casa.
Normalmente a gente queimava uma ou duas esponjas que a nossa vó cedia da cozinha, mas neste ano nós decidimos fazer melhor. Juntamos todas as moedas que tínhamos em nossos cofrinhos e fomos pro mercadinho da rua gastar tudo em esponjas. Conseguimos 14 pacotes, cada um com 8 unidades, e acabamos com o estoque do mercado. Quando chegou a hora de queimar os fogos lá fomos nós. Prontos pra nos esbaldar. Queimamos os 14 pacotes de uma só vez. Girando em todos os sentidos, formas e trejeitos. Um espetáculo a parte.
Giramos tanto que na mesma noite eu comecei a sentir uma dor leve no ombro. Até me queixei para minha mãe, mas como o corpo estava quente e eu não aparentava ter nada sério minha mãe não deu muita importância e continuei a brincar.
Essa noite e essas malditas esponjas fizeram eu sentir a pior dor da minha vida. Eu tinha deslocado o ombro, de tanto fazer o movimento circular da queima de Bombril, e no dia seguinte não conseguia me mexer. Precisei de ajuda pra sair da cama, me vestir, e ir até o médico.
O caminho até o médico também foi o mais longo da história. Como tínhamos que andar pelo menos uma hora em estrada de terra, a cada buraco que passávamos ou cada curva que nossa camionetinha velha fazia, eu chorava de dor. E quis com todas as minhas forças morder o médico quando tocou o meu braço.
Repito: “Crianças, não façam isso em casa.”.
Lição aprendida, nunca mais queimei uma esponja na minha vida. Mas ainda tenho a foto dessa minha façanha.
Quando a encontrar posto aqui pra vocês!

4 comentários:

  1. Tu sempre foi uma peste....to gostandoo noibee...achoq tem futuro..vamos assinar um contratinho onde sou tua empresária...ai tu faz um livro de crônicas..huauhahua hein hien hien...ta parei...bjooo

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  2. HAHHAHAHAHA..só tuu mesmo....lembro dessas façanhaas também...

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  3. aii diii, nossa essas histórias me fazem voltar pro tempo que a gente era criança, onde a gente nao via maldade em nada e tudo era motivo pra gente viajar na imaginação...que deliciaaa!! lindaaaa ameiiii

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