quarta-feira, 9 de junho de 2010

Um pouco de tempo perdido...

Hoje, 09 de junho de 2010, em meio a um conturbado final de semestre da faculdade e uma crise de sinusite, me dei ao luxo de me jogar no sofá com um cobertor e um bolo coberto com uma exagerada camada de brigadeiro pra assistir um filme, dispondo de todo o tempo do mundo e dando as costas pra todo o resto. O filme foi “O Solista” – recomendo.
Trata-se de uma historia verídica sobre uma improvável amizade entre um jornalista do LA Times e um sem teto esquizofrênico que toca violoncelo pelas ruas onde vive. Enfim, não darei mais detalhes sobre o filme para não entregar o jogo a quem ainda pretende assisti-lo mas, o fato é que, ele me remeteu instantaneamente a um vizinho, que morava na calçada do meu prédio em Porto Alegre.
O homem era surpreendentemente educado, cumprimentando sempre muito cortês a todos que cruzavam seu caminho e, em contra partida, ouvindo poucas respostas de volta. Por pura curiosidade e falta de quem cumprimentar nas ruas abarrotadas de estranhos daquela cidade, eu respondia. Ate que um dia ambos paramos em um sinal de pedestres fechado esperando para atravessar a rua. Ele olhou pra mim e apontou um prédio: “Sabe o que eles fazem lá? É o hospital do câncer de Porto Alegre. Trabalham com tais e tais diagnósticos – citou inúmeros termos médicos que eu não conseguiria reproduzir nem com a escora de um dicionário – e os medicamentos são estocados no primeiro andar, cerca de 3347 exemplares, nitrato de...”. Desculpem a ignorância, sou realmente péssima em fórmulas de química e física, assim como não posso relatar com a precisão científica as teorias de física quântica nas quais ele acredita.
Quanto tempo leva para abrir um farol de transito? Três minutos? E lá estava eu, boquiaberta e intelectualmente ignorante demais para travar uma conversa com aquele sujeito maltrapilho que eu vejo comendo restos de comida na calçada. Ao conseguir atravessar a rua cheguei em casa e joguei todas aquelas informações no Google para me certificar de que não se tratava de um blefe, mas não, o cara realmente sabia do que estava falando.
Eu poderia entrar na eterna reflexão de como as pessoas se deixam julgar pelas aparências, muito clichê. Prefiro me ater a uma indagação bem mais complexa: Será que aquele homem estava ali por opção? Ou que tipo de decepção pode fazer um homem realmente desistir de tudo? Queria encontrá-lo novamente e, assim como me permiti ficar atirada no sofá hoje, parar de desperdiçar tanto tempo com o trabalho e doar algumas horas a ele.

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