sábado, 6 de novembro de 2010

Brasil, meu Brasil brasileiro 3

Parecia ser mais um típico final de semana de surf. Céu ensolarado, calor, boas ondas, pouco vento, e quatro amigos descendo a serra rumo ao litoral norte paulista. Não que essas condições sejam realmente necessárias para um dia de surf, pois por mais inóspito que o mar possa estar no auge do inverno paulista lá estão eles, pranchinha em baixo do braço e sorriso largo no rosto, como se os 2º Celsius que o mar pode lhes oferecer naquele momento fosse uma convidativa e morna jakuzi.
Mas naquele dia tudo conspirava ao seu favor. A não ser por um pequeno detalhe: enquanto desciam a serra conversando animadamente, eis que um policial rodoviário militar, inesperadamente, mandou os garotos parar o carro no acostamento.
Agora um pequeno devaneio: Claro que um policial tem todo o direito de mandar quem ele bem entender parar o carro, para revistar ou o que for. E entendo que um carro cheio de moleques surfistas seja convidativo, afinal, apesar de achar que a nossa geração tem se mostrado bem mais saúde do que a dos nossos pais, facilmente num carro desses se encontraria pequenas infrações como ausência de documentos por se tratar do carro do pai, ou quem sabe ate mesmo um baseado... e em verdade constata-se que a “convidatividade” do alvo foi o único motivo para o carro ser parado, já que estava dentro do limite de velocidade e fisicamente estava em perfeitas condições.
Enfim, carro estacionado e circo iniciado. Ao invés de pedir documentos, e fazer perguntas corriqueiras do tipo “Pra onde vocês estão indo?” e “De quem é esse veículo?”, o guarda entoa uma única sentença que parecia ser muito bem ensaia e praticada: “Vocês querem me mostrar o que tem aí e já acertar tudo e ir embora, ou querem que eu mesmo encontre?”. (Vocês pensam que as gorjetas de final de ano destinadas a complementar o 13º salário começam só em dezembro? Não nos tempos de hoje, em outubro a mendicância já está oficializada...).
Com uma elegância política – e sem nada a dever, já que nunca nenhum deles tinha chegado perto de drogas – o motorista do carro responde: “Pode procurar, fique a vontade.”.
Completamente indignado – ou arrependido por ter parado o carro errado – o guarda começou seu trabalho de busca digno de cão farejador. Enquanto remexia todo o carro tinha o cuidado de não deixar nada no seu devido lugar e ser o mais grosseiro possível. Ao perceber que o carro realmente estava limpo, e não ia encontrar nada lá, passou a revista aos ocupantes do carro (coisa que por si só já é abuso de autoridade, considerando que ninguém tem o poder de revista com ausência de uma autorização oficial, ou ao menos uma queixa ou suspeita que possa por em risco a segurança pública... mas enfim, não esperamos que um oficial cuja primeira sentença foi um pedido de suborno respeite a lei, tampouco se guie pelo bom-senso.).
Primeiro a revista começou conforme o procedimento, correndo as mãos pelas pernas a procura de armas ou qualquer saliência que levante suspeita. Depois, o guarda pediu que os ocupantes do carro tirassem a camisa. (Vocês acham que aí sim foi abuso de autoridade? O melhor ainda está por vir...). Não satisfeito com a semi-nudez o guarda mandou os meninos abaixarem as calças. E quando finalmente vestiam apenas as cuecas, uma por uma ele as puxava para dar uma conferida (finalmente ele resolveu verificar os documentos! E eu pensando que ele tinha esquecido!). Para dois deles ainda foi solicitado que levantassem o pênis e o "saco", mas tudo em prol da lei, povo brasileiro, porque tanta revolta?
O guarda não foi tão rude, afinal. Ao terminar o serviço ele fez questão de esclarecer que tudo que foi feito foi apenas procedimento padrão (aonde? Na caça aos judeus ou na senzala?), e ainda teve a delicadeza de os confortar dizendo que tiveram sorte por terem sido parados a luz do dia, que se fosse a noite eles iam se dar mal. (Ufa!)
O problema desse país não é apenas a falta de policiamento na rua. Primeiro porque se todos os policiais cumprissem a ronda a qual são destinados nenhum lugar ficaria descoberto. E segundo, se existisse um efetivo acompanhamento do trabalho deles, se não fechassem os olhos para as conhecidas laranjas podres, e os concursos não funcionassem a base de QI (o famoso Quem Indica) talvez as coisas pudessem estar melhores. Os bandidos vão começar a sair das ruas quando tirarem os bandidos de dentro da polícia e dos cargos oficiais desse país.

Texto dedicado àquele senhores que gostam de revista em cuecas – pois é lá que eles guardam o dinheiro destinado a segurança que eles tiraram dos cofres públicos.

Um comentário:

  1. Brasil, meu Brasil brasileiro 3... 100% veridico!!!
    Pois é... euzinho aqui era um dos 3 individuos que estava presente durante o tal ocorrido!!!
    Mas o importante é que o surf não pode parar!!!

    aloha! =)

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