sábado, 5 de dezembro de 2009

Minha mãe é o cara

Vivi toda a minha infância em um lugar muito tranquilo, na realidade eu diria até isolado... Dividia a minha rua com apenas outras duas casas, eram esses os nossos vizinhos mais próximos. Em uma dessas casas havia um menino, meu primo por segundo grau, que me fazia companhia quando nossas mães se encontravam para conversar e tomar ‘mate’. E na outra, um casal de senhores de aparência simpática, tranquilos, que davam a impressão de ter passado os últimos 50 anos fazendo a mesma coisa.
Quase posso vizualizar eles acordando sem se cumprimentar, tomando café calados, se dirigindo cada um a sua cadeira de balanço, sem dizer nenhuma palavra. Essa parte do despertar e desjejum matinal obviamente eu nunca presenciei, apenas imagino que deve ser assim porque eles não nos davam margem pra imaginar outra coisa. Também morava lá o pai do homem do casal, esse me dava balas e me chamava de macaco. É tudo que eu consigo me lembrar.
Porém, mesmo com esse sossego todo, nós conseguíamos sim alguns atritos, como toda boa vizinhança! E as briguinhas de interior são as melhores. Minha mae cuidava de um jardim magnífico na nossa casa, cheio de vida, com flores de todas as cores, de todos os tipos. Mas, um dia percebeu que havia algo errado com o jardim, os canteiros apareciam remexidos, as flores despedassadas, e ela começou a investigar o que estava acontecendo. Não foi preciso muito esforço para ver as galinhas - que os vizinhos calados criavam soltas - ciscando pelo jardim, e bicando desvairadas as flores coloridas que se despedaçavam pelo chão.
Ao constatar que o problema era esse, no mesmo momento minha mãe me pegou pela braço e foi comigo até o vizinho pedir gentilmente que ele comece a prender suas galinhas, que estavam estragando suas plantas.
Dois dias depois, as galinhas continuavam soltas sorrateiras entre as flores. Minha mãe voltou ao vizinho e pediu novamente, agora não mais tão gentil, que prenda as penosas.
Ainda repetiu uma terceira vez o pedido ao vizinho, antes de fazer uma das coisas que a deixou conhecida pelo lugar...
Depois de já ter extrapolado a sua cota de conversa, ela sentou na frente de casa graciosa e silenciosa, cabeça erguida, sorriso no rosto, e a espingarda de caça do meu pai cerrada nos punhos (leia-se que ainda não era exigido o porte de arma nessas circunstâncias) e matou as galinhas do vizinho a tiros.
Ah como eu queria ser uma mosquinha nesse momento pra ver a reação de cada um dos vizinhos! E queria também poder lembrar de mais detalhes dessa cena, uma mulher de seus 26 anos, linda e indiscutivelmente decidida, descer do salto e partir à caça às galinhas... o que me anima é que, mesmo não podendo ter visto a reação das pessoas na época, consigo arrancar até hoje as mesmas expressões das pessoas pra quem conto essa façanha!
Que orgulho, mãe! Quando eu crescer quero ser como você!


Ps.: Se a reação foi essa ao mexer com seu jardim, imaginem se alguem ousasse mexer com as suas ‘filhotas’. Não paguem pra ver...

2 comentários:

  1. Parece q vejo a dona Berna fazendo isso mesmo...eu imaaagino AA cena..uhaushuahshau

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  2. Muito bom Di...

    Adorei a história..
    Bjãooooo!

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