sexta-feira, 30 de julho de 2010

Animais de estimação

O assunto animais de estimação sempre nos remetem a lembranças boas, a família, aquela casa no sítio e os bons momentos que seu companheirinho lhe proporcionou, certo?
Errado. Esse é, na realidade, um assunto muito delicado pra mim, já que no quesito fauna eu nunca tive muita sorte, tampouco boas lembranças.
Tudo começou com as minhas Tetéias. Já coloco esse substantivo próprio no plural porque a minha vira-lata que morreu foi substituída por outra, Tetéia segunda, como se eu não fosse perceber. Minha mãe subestimou a experiência adquirida nos meus três anos de vida e achou que me enganaria facilmente, mas não. Ela até pôde me fazer acreditar que minha Tetéia original foi morar com outros cachorrinhos, mas não que ela não tivesse sido trocada, disso eu nunca tive dúvidas. Mas enfim, a segunda Tetéia também não durou muito não. E eu acredito que tenha acontecido algo trágico com ela já que na época minha mãe preferiu não se pronunciar a respeito.
Depois delas teve o Bob, um cachorro que fazia jus à ciência que descobriu que apenas seres humanos usufruem de alguma racionalidade. Ele saltitava desorientadamente, desesperadamente, loucamente. Saltitava sobre a comida, sobre outros cachorros, sobre nós que cuidávamos dele, e eu, pequena que era, não conseguia nem sequer chegar perto dele sem que fosse derrubada. Não sei o que aconteceu com esse.
Depois disso teve um que nem lembro o nome. Só lembro que era cego, surdo, mudo e perneta. Foi sacrificado.
Chega de cachorro né? Eis que surge o primeiro Kiko. Um coelhinho daqueles de filme. Branquinho, olhinhos vermelhos, redondinho... Um belo dia o Kiko encontrou uma coelhinha, e foi embora com ela, pra viver feliz para sempre e fazer coelhinhos... ‘Há!’ Doce ilusão! Foi só no ano passado, num flash back dessa história, que alguma coisa na voz da minha consciência soou irreal. Infortunamente, decidi confirmar essa memória com a minha mãe que, às gargalhadas, contou que naquele dia, quando acordou, saiu recolhendo pedaços de Kiko pelo quintal, o que o cachorro do vizinho tinha deixado pelo caminho... Disse que não acreditava que até hoje eu me agarrava à historia do Kiko ter ido construir uma família. Foi cruel.
No segundo Kiko já estava aflorando em mim a consciência ambiental que carrego nas costas até hoje – e que me dói ao passar na marginal Tietê e nos jardins bem irrigados do Morumbi. Bom, esse Kiko era um papagaio. E eu julguei não ser correto o pobre bichinho ficar preso numa gaiola. E num delírio inefável, praticando caridade e sem qualquer tipo de pestanejo, abri a gaiola e o lancei à natureza. Provavelmente o cachorro do vizinho deu um jeito nesse também, já que o pobre não conseguia voar e ficou o dia inteiro passeando pelo gramado.
Eu sei que isso já é historia pra uma vida toda, mas eu não tinha mais de 6 anos até aí. Nessa epoca – evangélica que sou – já estava aprendendo historias da Bíblia. Fiquei muito impressionada com uma, especificamente, a de Caim e Abel. Pra quem não conhece, Caim era o irmao mal, e Abel o bom. Eles faziam oferendas a Deus queimando um pouco dos seus bens. O irmao bom criava ovelhas, e sacrificou a melhor do seu rebanho, e Deus ficou feliz. Caim plantava trigo, mas era mesquinho e ofertou a Deus um trigo feio e sem vida que não lhe seria útil, Deus não ficou satisfeito... o que isso tem a ver com os meus animais de estimação? Logo as coisas vão se encaixar...
Depois de um bom período sem cachorros, minha mãe levou pra mim um filhotinho lindo! Tinha um pouco mais de um palmo de tamanho, e era uma bolinha de pelo, com aquele fucinho que desperta vontade de morder. Foi amor a primeira vista, não deixei nem minha mãe o apresentar pra casinha nova, já o tomei dos braços e passei o resto do dia o mimando e carregando pra todo lugar. No final do dia deixei ele solto e entrei em casa. Ele devia estar com sede e não encontrou sua agua porque ainda não conhecia a casa, tomou agua que escorria da maquinha de lavar roupas, cheia de sabão em pó. Essa parte da historia não é nada engraçada, e ainda me traz lagrimas aos olhos. Ele já estava desmaiado quando minha mãe o encontrou. Acreditem se quiser, ela fez massagem cardiopulmonar, manobras de ressucitação a afogamento, e ele voltou a respirar, cuspiu várias bolinhas de sabão e permaneceu vivo, mas muito doente, por mais uns 3 dias. E é aí que entra a historia de Caim e Abel! Eu estava decidida a salvar aquele filhote, e fiz uma ‘parceria’ com Deus. Eu ofertava a ele a minha melhor Barbie, que eu tinha acabado de ganhar da minha mãe, e ele salvava o cachorrinho. Queimei minha Barbie, perdi o cachorro. Tenho certeza de que Deus gostou da atitude, mas a moral da historia dos irmãos bíblicos não era pra ser tirada assim tão ao pé da letra...
E por ultimo, mas não menos importante, o meu urso panda. Esse era imaginario, hoje eu sei porque a uns dois anos atras la veio minha consciencia questionar minhas lembranças denovo! Ele morava no meio de um pé de boldo, de frente pra janela do meu quarto. E a gente brincava por ali, entre boldos e hortelãs, mas um dia ele me empurrou e eu não gostei, nós brigamos e eu nunca mais o vi.
Saudades eternas, panda.

5 comentários:

  1. "Provavelmente o cachorro do vizinho deu um jeito nesse também, já que o pobre não conseguia voar e ficou o dia inteiro passeando pelo gramado."
    AHUHUAHUAHUAHUAHUAHUAUHAUHAA
    Muito bom!

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  2. eu acho que a diane tem serios problemas....sempre achei ela estranha!!! e agora com essa historia do urso imaginário, não tenho mais dúvidas!!! ahahahahaha
    abração diane!

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  3. SUHASHUuhsauauhsa..essa é muito booooaa...tudo culpa dos cachorros do Fábio..uhasuhasuhashusauhashuashuasuh

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  4. Ah, adorei o texto! Muito bem escrito, mas triste, me remeteu às lembranças de meus bichinhos... Tbm nunca tive sorte com eles...
    Beijos!

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