quarta-feira, 12 de maio de 2010

Coisas da aviação 5 - Perdendo a compostura

Nem só de voos se faz a aviação, mas também de reservas e sobre-avisos. Essa tal de reserva consiste em montarmos a produção completa – toda a fantasia de comissária – ir para o aeroporto e passarmos 6 horas sentadas, comportadas e com cara de paisagem, esperando que ninguém falte para que não precisemos assumir nenhum vôo e poder voltar pra casa. Como vocês devem imaginar, essas 6 horas sentada no seu local de trabalho sem nada para fazer não passam, se arrastam! Ainda mais quando essas seis horas de reserva começam as 6:00h da matina! Considere que, para estar montada as 6:00h no aeroporto, é necessário acordar no mínimo as 4:30h da madrugada. Nem o horário nem o trabalho colaboram para manter o bom humor nesse caso, e tudo o que a gente mais quer é conseguir dar uma cochilada pra ver se o tempo passa mais rápido.
Era isso eu estava tentando fazer na semana passada. Depois de ter acordado as 4:30h da manhã, nada mais digno do que tirar uma soneca num sofá esquecido num canto da sala de reservas, e o soninho logo veio... mas de repente:
“Tec! Tec! Tec!...”
Fui desperta por um daqueles barulhinhos bem irritantes! Olhei pro lado e era um comandante batendo uma hastezinha numa caixinha de plástico. Quando identifiquei o barulho ele parou. Voltei a cochilar.
“Tec! Tec! Tec!”
Acordei num susto dessa vez. Quando olhei ele parou, acho que percebeu que estava incomodando... e olha o soninho voltando...
“Tec! Tec! Tec!”
“Grrrr... Que raiva! Ele não vai parar???” Me remexi e ele levantou... “Graças a Deus ele foi voar, vou tirar meu cochilo em paz...”
“Tec! Tec! Tec!”
“Não é possível! Ele Voltou!”:
- Comandante! O senhor ta querendo arrancar esta haste?! Me dá aqui que eu arranco pra ti!” – eu falei com numa cara de louca.
- Não, eu tava só brincando com a caixinha.
A minha cara de louca continuava. Ele olhou pro comandante do lado e falou: “Imagina isso daí brava...”, apontando pra mim.
- Isso que eu nunca vi na vida, imagina se me desse confiança! – a cara mais louca do que nunca.
- No terceiro dia de vôo já ta mandando calar a boca. – disse ele com um risinho sem graça.
Não agüentei. Caí na gargalhada! E ele também. Acabamos conversando como velhos amigos e ele disse que por um momento chegou a ficar com medo... mas que sabe que essas surtadas fazem parte do negócio.
Já em outro vôo foi acionado na reserva um comissário que... como eu posso me expressar pra entender a gravidade da situação?... Um comissário que não tem vergonha de assumir sua saída do armário. Daqueles que qualquer um olha e fala: “Essa fanta é uva!”, “Esse pitbull é Lassie”, e afins... enfim, bem Barbie Girl! Já o comandante era o total avesso, do tipo mais grosso que dedo destroncado...
Ao ver o mais novo integrante da tripulação o comandante já lançou aquele olhar de revesgueio, de quem já entendeu com que lidava, e falou com voz grossa: “Vou fumar!”
- Ah não captain! Fumar é feio!! Cadê a elegancia? Não vai fumar não captain...” – disse o comissário cheio de si.
E sem hesitar nenhum segundo, como se tivesse com a resposta preparada uma vida inteira o “captain” responde:
- Piá, na minha época feio era dá o cu!
E segue o baile...

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